Reforma política! (não já! antes, é preciso discuti-la!)

Os sistemas eleitorais e partidários, correntes em nossos regimes políticos legitimados pelo sufrágio universal (comumente chamados de democracias), permitem o acesso ao poder aos mais competentes. Essa competência, no entanto, não é a de governo, como se esperaria. Mas, a competência para disputar eleições, para brigar pelo poder, para intrigar contra os partidos adversários, para manipular e conduzir a opinião. 

O sistema eleitoral partidário faz com que sejamos governados por aqueles que desejam acima de tudo governar, e estão dispostos a lutar, a matar e, até mesmo, a morrer por isso. Isto é, por aqueles que não têm outro objetivo maior na existência, que têm um interesse claro e exclusivo em exercer o poder, e que, portanto, quando ganham as eleições, tiram para si grande proveito disso.

Para evitar essa apropriação do poder em vista desses benefícios, deveríamos ser governados por aqueles que não têm interesse em governar, porque, acreditam, não tirariam nenhum proveito pessoal do exercício do poder. Governados por aqueles que não desejam governar. Aqueles indivíduos comuns que apenas desejam beber, comer, amar e viver sossegados.

_Ora, mas tais indivíduos são certamente incompetentes para governar!

O governo dos indivíduos comuns, com seus desejos simples, talvez, seja “um remédio a um mal bem mais grave e mais provável que o governo dos incompetentes: o governo de uma certa competência, aquela dos homens hábeis em tomar o poder pela intriga”*.



(*) RANCIÈRE, Jacques. La haine de la démocracie. Paris: La Fabrique, 2005. P. 49.

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