As coisas em geral funcionam assim

A B C D E F G H I J K L M N O

Mas, E’. Então:

A’ B’ C’ D’ E’ F’ G’ H’ I’ J’ K’ L’ M’ N’ O’


Democracia e confiança na prática da multidão

A confiança na democracia é diretamente proporcional à confiança na multidão. Não há como defender a democracia sem confiar na inteligência da prática da multidão.

Note-se, no entanto, que a multidão não é uma única. Há multidão de multidões. Cada uma é uma, segundo o seu engenho próprio, seu gênio, seu humor, seus traços marcantes, marcados, hábitos, história, suas práticas próprias.

Uma mesma multidão, aliás, passa por disposições diferentes. Ora se fecha. Condensa-se. Torna-se obsessiva. Endurece. Emburrece. Uniformiza-se. Ora se abre, se espraia, se torna mais complexa.

Há multidão que se preze, ame. E outras, que não. Podemos confiar numa multidão, num determinado momento, e, noutro, não. Confiar numa, e não na outra.

Mas, sobretudo, é preciso desconfiar dos processos (daqueles, por exemplo, espetaculares e eleitorais, que se passam por democráticos, sem o ser) que necessariamente emburrecem, obcecam a multidão.


A produção da unha e a livre-necessidade


Um pedaço de unha, sua produção seria explicável apenas a partir da natureza do corpo e de nada mais? Seria, então, esse pedaço de unha, resultado de uma produção livre do corpo? O corpo que eu sou seria livre ao produzir necessariamente suas unhas das mãos e dos pés? Num pedaço de unha, posso me perceber agente, posso, aí, perceber a ação do corpo que sou?


Entre-estações

A seca indubitável. A chuva. A dúvida. A seca está de volta, agora, porém, sem a certeza da seca.

O cogito indubitável. E, então, a inconsciência disso – a consciência perdida: penso, mesmo sem eu saber disso (há um pensar que me atravessa e que desconheço). De que duvidar, então? Quando o cogito aparece de volta, aparece, porém, sem a certeza da consciência. Afinal, a certeza se aplicava mais à consciência do cogito (eu penso que penso e estou certo disso, eu sei que penso e isto é certo, eu sou consciente de que penso) do que ao próprio cogito.