A honestidade na filosofia

O que seria a honestidade na filosofia?

No uso da vida, dizem-nos, é viver, obstinadamente, segundo o dever (honeste vivere)*. E o dever, no viver, é algo de que todos nós teríamos a mesma ideia comum, apesar de obscura e confusa.

Muito bem. No entanto, a vida filosófica não é um uso comum da vida:
A própria questão diretriz de Husserl, uma questão na qual ele se aprofundou com uma conscienciosidade penetrante, era:
_ como é que posso me tornar um filósofo sincero?**
A sinceridade filosófica é uma obstinação a não avançar, publicamente, qualquer tese da qual não se tenha uma plena justificação racional intimamente adquirida.

Na filosofia, então, a vida honesta é um devir. Na vida filosófica, a obstinação da honestidade não é uma obstinação na sinceridade; mas, obstina-se a tornar-se sincero. A honestidade filosófica não é a sinceridade mesma, mas um devir sincero.

Nesse devir, nesse movimento incessante, avançam-se sem cessar as mais desbaratadas hipóteses.

O filósofo honesto reconhece, ao menos para si, constantemente, a sua própria insinceridade.






(*) KANT, Immanuel. Metafísica dos Costumes I: Princípios Metafísicos da Doutrina do Direito . Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2004 [1797]. P. 43.

(**) GADAMER, Hans-Georg. O movimento fenomenológico [1963]. Trad. Marco Antônio Casanova. In: Hegel, Husserl, Heidegger. Petrópolis: Vozes, 2012. P. 147.

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