Cuidado com o que se aprende

É preciso cuidado com o que aprendemos. Um cuidado que não só nos aproxime, mas também nos distancie daquilo de que cuidamos. Com o cinema, por exemplo. Seu perigo: o cinema nos ensina modos de viver.

Chápeu e publicidade

O que um chapéu tem a ver com um cachimbo? Um acontecimento, com um evento?

24 + 24 = um acontecimento não é um evento

Algo vai acontecer em 48 horas.

Consciência e consciência de si

Um homem de chapéu (desde nossa perspectiva, de cima para a cena, não se pode lhe ver os olhos) anda em seu apartamento. Seu passo ressoa no chão de tacos, sem tapete. Ele caminha nos corredores, e passa pelas portas que separam os cômodos, sem esbarrar nas paredes. Na sala, põe a mesa: os pratos, os talheres, os copos, tudo bem composto (nós não duvidamos de que ele esteja consciente, ele sabe o que está fazendo, seu fazer é coordenado com as coisas; pouco depois, desde cima, vemos outras pessoas se sentarem à mesa, para jantar; o fazer do homem de chapéu está articulado com o fazer das outras pessoas; ele e os outros comem, bebem e riem).
Mais tarde, quando todos se foram, perguntamos a ele por que não retirou o chapéu, enquanto estava em casa, durante todo o jantar, com todas as pessoas presentes. O homem levanta seu rosto em nossa direção (agora podemos ver seus olhos, parecem de vidro). Ele se diz muito surpreso com o chapéu, com o jantar, com as pessoas, como se, só agora, ele notasse que algo aconteceu, algo de que ele foi participante.

Não compre! _Isto é um[a] publicidade II.

Ou...


Mecanismos afetivos XIII


Quotidianamente, eu me sento diante de um sentimento dúbio de alegria-tristeza. De algum modo, talvez por experiência, eu sei que poderia buscar, e distingui-las, as razões da alegria como da tristeza. Mas uma preguiça, que faz parte da tristeza, me enlaça, e me retém diante desta busca, ela mesma, alegre e triste.

Devoção ao nihil


Há muito tempo estou tentando dizer (afinal, o que me impede?): atropelados somos por nossa própria vivência se não conseguimos contá-la.

Não consigo te (neste te: veja-se o mais genérico) contar o que vivo. Nem tu, o que vives a mim.

Voto de silêncio


Crátilo não dizia nada, porque para ele era impossível dizer uma palavra que significasse alguma coisa. Como todo “teólogo” que se preze, eu também faço-fiz-farei meu voto de silêncio.

Mas meu voto de silêncio tem outras razões: tudo o que eu falo é besteira (é besteira da imaginação o significado de tudo o que falo, embora as palavras mesmas sejam reais).

Por razões evidentes, porém, a enunciação do voto de silêncio não pode ser um testemunho do presente. Só posso enunciar meu voto de silêncio em relação ao passado (“fiz um voto de silêncio”) ou ao futuro (“farei um voto de silêncio”).