O bom e o mau de uma explosão

Bom: no fervor, as coisas cruas começam a esquentar.
Mau: quentes durante algum tempo, quando o fervor se torna devoção, terminam as coisas cozinhando-se mutuamente.

A explosão é o mesmo processo esquenta-cozinha, fervor-devoção, mas acelerado.



Homofonia III – devir na língua

Na tradição dos oitocentos, a fonologia.
Diferentes acepções de uma mesma palavra podem se radicalizar, até que, na homofonia, apenas o som permaneça comum.



Homofonias II

Homofonias são registros (traços mnêmicos) na língua de conflitos semânticos entre interpretações.

Mito e história VII

Se o devir histórico acaba com o mito, então, com o “fim da história” retornamos à era do mito.

Mas, de fato, mito e história não se opõem. O mito é uma força histórica (por exemplo, nos messianismos); e a historicidade do ser, um arquétipo.


Uma escolha ex-colhida II

Toda escolha é a colheita de uma flor disposta num campo. 
Num campo, onde tudo são flores.
Assim, na imanência do campo de escolhas, 
quem ex-colhe também pode ser ex-colhido.

Nossa ideia de tempo

Nossa ideia de tempo advém da necessidade de efetuar um deslocamento para um corpo estar em dois lugares diferentes do espaço.



Mito e história VI – uma espiritualidade política

A forma do império da multidão livre é a democracia comunista, em que cada parte da multidão é livre, em que cada parte, centrada em sua singularidade, opera ativamente em busca do seu útil próprio, em conjunto com as outras partes livres, sem obedecer e sem servir a ninguém, e conserva, em suas próprias mãos, em sua utilidade própria, a integridade da sua potência.

A forma imperial da democracia comunista é o devir mais pertinente à nossa ficção, à nossa ontologia inventada ou encontrada. O devir de um desejo intensificado, sem objeto e portanto sem sujeito. De fato, é o “Reino de Deus”, em que o amor ao próximo esposa o amor de Deus por si mesmo. Não é somente um ainda-não, porque conecta-se com o real já-presente no interior da potência do imaginário.

Isso, o que é?

Quando o filósofo coloca essa questão: – o que é isso, a filosofia? –, ele se pergunta essa outra: – o que é isso que eu faço (é história, música, poesia, psicologia...)?

Quiasma: língua_pensamento VI

    há um poema elástico feito de títulos:
em cima (classicamente comme il faut)
        embaixo            na aaaaaaaaas    ponnnnnnnnntas
  no MEIO
    (penso.escrevo.em.como
experimento g.z.)

Quiasma: língua_pensamento V

A língua é sempre manifesta, nunca latente.
Como o pensamento, aliás.
Pois quem late é cachorro (embora pense).



A cada manifestação da língua (fala, texto) ecoa (brota) uma outra.


InfoBLOG e filosofia

Aqui, não há compromisso com o desengano. Mas, isto ainda é filosofia? De pronto, eu diria que não. Filosoficamente, porém, eu diria que sim.

Quiasma: língua_pensamento IV

É preciso filosofar na primeira pessoa do tempo presente do modo indicativo? Ou as ideias de primeira pessoa, de tempo e de indicação pela fala são gaiolas gramaticais para o pensamento?

Mito e história V

Os profetas preveem o futuro, porque o futuro faz parte da eternidade que eles apreendem, mesmo que apenas confusamente.

Isso que pretende terminar com a confusão das ideias é a metafísica.

Na modernidade, a metafísica encontrou (ou inventou) seu critério na historicidade do ser (o ser do tempo é o tempo histórico e humano). Assim, a história se tornou a metafísica excelente.

Mas, com a metafísica histórica, nos foi possível, em algum momento, fazer, até mesmo, a história do futuro. Com isso, os metafísicos modernos tornaram-se como os profetas.

Quiasma: língua_pensamento III: enganos e revelações da língua


Diz-se que a língua nos engana, porque tomamos como categorias (formas, tipos, gêneros) do real categorias que são somente gramaticais, isto é, determinadas pela necessidade da comunicação e do hábito. Que a gramática da língua escraviza nossa experiência do real. Que, portanto, precisamos nos livrar da gramática, isto é, colocá-la no seu devido lugar, para pensarmos além dela e, assim, além do habitual.

Pode ser. De toda maneira, embora a língua seja somente um registro das imagens e dos hábitos dos falantes e não a estrutura do real, suas nuances e dobras subentendidas também nos revelam aspectos das imagens e dos hábitos reais.

A conjunção “e”, por exemplo, serve para adicionar, de maneira coordenada, coesa, coerente, dois nomes ou duas orações (que no nosso engano tomamos como entidades reais não linguísticas). Às vezes, porém, “e” funciona para indicar, na coordenação de dois nomes ou de duas orações, uma adversidade.

Por exemplo, dizemos: “Ele foi viajar, e foi contente”; e (ou mas) também: “Ele foi viajar, e foi descontente”.

O fato linguístico de que uma mesma conjunção sirva para indicar uma aliança ou um conflito parece esposar uma característica real, a de que a aliança (que é um requisito dos corpos) não suprime o conflito (entre os corpos que se aliam).

Mito e história IV

Os profetas, confusos, anunciam o futuro: “haverá um poste, ao dobrarmos a esquina”. Se eles percebem o ainda-não, é porque o ainda-não é já-presente.

Mito e história III


Na história, não se pode “andar para trás” nem “retornar ao mesmo”. Não porque a história vá sempre para frente, mas porque a história não tem um sentido. Ela não é uma arvore que cresce com anéis cada vez mais exteriores e perfeitos. A história é um vagar pela infinita pluralidade dos modos do existente ou do mito ainda-não já-presente.

Isto dito, então, o que se chama retorno do mesmo torna-se visão do oculto (como quando, ao dobrarmos, pela primeira vez, uma esquina, começamos a perceber um poste que, porém, já estava lá, absolutamente, desde sempre e inexoravelmente, no desenho da cidade).

O comutador

Uma função bijetora, entre invenção e encontro.


Na frase acima, a vírgula substitui um verbo, que falta. Um verbo comutador que compreende toda invenção de algo no real como um encontro de algo que estava ali presente. E, todo encontro, como uma invenção de algo que ainda não é real.




O “Reino de Deus” exerce a função do ainda-não já-presente.

15h

Sob a pressão ardente e absoluta do sol das 15h, as folhas das árvores se movem lentamente. Mesmo assim, na natureza, não há o tempo.