O que pode um texto de filosofia?


Mais interessante (porque mais importante) que a verdade de um texto filosófico, em si mesmo considerado, é o que se faz com ele. Seus efeitos de verdade.




Infinitas fotografias?


O número de imagens técnicas que um aparelho fotográfico digital pode produzir é muito elevado, mas finito. São, por exemplo: 6.000 x 4.000 pixels, com uma profundidade de 16 tons para cada uma das três cores. Isso possibilita: um total de 1.152.000.000 fotos. Das quais uma enormidade é semelhante a outra.



História num texto de filosofia pura


Num curioso trecho de um texto de filosofia fundamental-transcendental, Husserl escreve: “[...] pessoas sub-humanas [...]”*. Com isso, 1929 entra na metafísica.







(*) HUSSERL, Edmund. Meditações cartesianas [1929]. Trad. Pedro M. S. Alves. In: Meditações cartesianas e Conferências de Paris: de acordo com o texto de Husserliana I. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. P. 105.

Para o lado da imagem


Sinto-me atraído, além das ideias, também, e às vezes até mais, para a imagem (que, assim como ocorre com atração para a ideia, se mostra em seus aspectos passivos – imagem-impressão – e simultaneamente ativos – imagem-expressão).

Ideia-imagem, um mesmo elemento em modos distintos – modos de pensamento. Não há ideia que não implique alguma imagem? E imagem, que não envolva alguma ideia?

Sobre a primeira questão, lembro-me da secular nota de Spinoza : “quase nada podemos inteligir acerca de que a imaginação não forme, imediatamente (è vestigio), alguma imagem”*.



(*) SPINOZA, Benedictus de. Correspondance. Trad. Maxime Rovere. Paris: GF Flammarion, 2010. Lettre XVII, §5. P. 124.





Petição de princípio e a questão da fundamentação (exemplo da psicanálise)


Sim, a relação da psicanálise e do totemismo (enquanto ideias) constitui uma petição de princípio, segundo a análise linear da questão da fundamentação.

A psicanálise explica o totemismo, e essa explicação explicita e confirma a teoria psicanalítica.

Essa circularidade lógica é um problema impeditivo apenas quando se tem uma concepção arquitetônica da filosofia ou do pensamento. Digo arquitetônica, talvez não muito adequadamente, quando se entende a construção do pensamento a partir da metáfora da construção de uma casa, cujas partes mais elevadas se apoiam naquelas mais baixas, e finalmente naquelas assentadas sobre as suas sapatas fundamentais, que por sua vez se assentam num solo absolutamente firme.

A organização do pensamento (sua sistematização), no entanto, não se constrói verticalmente ou linearmente, mas em círculos ou em espiral. As partes ou as ideias do pensamento se desdobram indefinidamente umas das outras, incorrendo nesse processo necessariamente em contínuas petições de princípio, pelas quais aquelas ideias se afirmam, e também se transformam, mutuamente. Uma ideia do pensamento nunca é (realmente) separável da totalidade das outras.

Assim, a lógica da petição de princípio não é um impedimento, mas a efetividade (a lógica efetiva) do pensamento.