Toda nudez será castigada


Escrito em algum lugar (não importa onde), em torno a Nelson Rodrigues e aos anos 1960: ...“uma sociedade corrupta, dominada pela hipocrisia, despreparada para os desafios da modernidade”.




Psico-político-análise: a nudez brasileira




Massa, plebe e miopia


Difícil discernir, num falante, quando se trata de desprezo da massa (da homogeneidade) ou de desprezo da plebe (do que não é nobre), pois a plebe não está, em geral, massificada ou homogeneizada. Diz-se da plebe que ela é massa. Ela é tratada como se fosse. Muitas vezes, no entanto, isso é apenas um sintoma de miopia (de quem olha de longe e não enxerga bem).

Nobre é o indivíduo especial que se destaca da plebe, do vulgo, do humano vulgar, de algum modo, seja pelo talento artístico, pela formação intelectual, pela beleza, pela riqueza, pela raça ou seja por que for. Na sua pretensa distância, o nobre míope – ou quem se imagina nobre por, além de ser míope, sofrer também de hipermetropia – percebe a plebe sempre como massa.





Psico-políticanálise IV: fascismo e narcisismo


O que é o fascismo na sua relação com um certo narcisismo e com a negação do Outro? Um certo amor da forma do Mesmo. Um certo ódio da forma do Outro. O fascismo é o ódio ao Outro? Ódio à liberdade? Fascismo, a política cativante da massa?






A origem dos neologismos na filosofia


Alguns obtêm a destreza na escrita antes de filosofar. Já sabem escrever habilmente, antes de começarem a escrever filosoficamente. Seus primeiros textos filosóficos já surgem bem-escritos. Já possuem toda a língua, antes de fazerem filosofia.

Outros só adquirem a técnica e o domínio da língua no momento em que começam a pensar filosoficamente, tomam a técnica da língua como uma exigência filosófica. Possuem a língua à medida que se desenvolve sua filosofia.

Em geral, os primeiros nunca se valem de neologismos.



Apropriações consolidadas na linguagem


“Homens” – para referir-se a todos os humanos: mulheres inclusive.
“Americanos” – para referir-se aos estado-unidenses, com exclusão de todos os outros americanos.




Problematizar


A filosofia, ou seja, o pensamento especulativo, não tem o compromisso de desprender da experiência os seus conceitos, mas procura forjar os conceitos capazes de abrir a experiência ao pensamento. Abrir a experiência ao pensamento quer dizer tornar a experiência, e isso que acontece numa experiência, um campo plástico para a atividade de pensar, um campo problemático. Fazer da experiência um problema, isso é abrir a experiência ao pensamento.


Contragolpe


Faltou o contragolpe.

Dilma dizia: é golpe! E de fato foi. Mas ela não reagiu como se fosse. Dilma, ela mesma, não levou o golpe a sério: não deu o contragolpe. Afastou-se, tranquilamente, na aparência e no respeito da aparência da legalidade. Poderia ter permanecido fisicamente no seu posto, até que a polícia ou o exército viesse, pela violência, afastá-la.



INDIGN-


O terrível fel da indignação... essa paixão pode ser paralisante (nos subtraindo a potência da ação)...





O obscuro lugar da lei

Paradoxo jurídico:
– Usam a lei para se esconderem da lei.

“Este(s) se refugia(m) na obscuridade do não-ser e, vinculado(s) a ela, se camufla(m); é a obscuridade do lugar que torna difícil reconhecê-lo(s)”*.



(*) PLATÃO. Le Sophiste. Trad. Nestor L. Cordero. Paris: GF Flammarion, 1993. 254a. P. 170.

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Não há ideia mais obscura e confusa do que a ideia de uma ideia clara e distinta.


Filosofias: criadoras de problemas


A nossa dificuldade com uma certa filosofia (nosso estranhamento) está, muitas vezes, ligada ao fato de que não compreendemos, não enxergamos, os problemas que ela levanta, ou não consideramos problemáticas as suas questões, porque elas não nos afetam.

Por que uma filosofia vê (ou inventa) nisso um problema, quando para nós tudo parece tão simples? A nossa dificuldade pode ser a nossa apatia ou o engano de uma filosofia. Nossa questão então toma a seguinte forma: – os problemas que uma filosofia aponta nos são pertinentes, quer dizer, podem nos afetar?

No entanto, somos frequentemente forçados, pelos disciplinadores, a fazer de conta que vemos problemas onde, verdadeiramente, não vemos nenhum.




Voar


– Os passarinhos naturalmente não sentem o peso da história, como nós. Mas é por isso que eles podem voar?



No dispositivo de mercado, só há interesse?


A sensação de fome é uma forma de interesse, a força com que se manifesta o instinto de autoconservação próprio a tudo o que existe e que, como existente, persevera no existir.

A determinação exclusiva do interesse como interesse econômico (a ponto de se considerar o econômico como o único interesse relevante, estando todos os demais neutralizados como estímulos para a ação) corresponde à inserção dos corpos na situação histórica do dispositivo de mercado.