Por mais segurança... (2)


O mesmo cartaz, mais definido.

A imagem foi extraída do site do partido SVP (Schweizerische Volkspartei) – Partido do Povo Suíço, com 29% dos votos, na última eleição para o legislativo. O slogan do cartaz em francês é "Por mais segurança". Em alemão, faz-se o witz com o verbo schaffen, criar, produzir; escolha muito "inteligente" da palavra, pois Schaf é a ovelha. Esse jogo de palavras "inteligente" torna o cartaz ainda mais absurdo. Literalmente, "Sicherheit schaffen" traduz-se por: "Criar segurança". Uma tradução mais próxima ao significado múltiplo das palavras seria: "Arrebanhar segurança". Arrebanhar segurança, expulsando do rebanho branco a ovelha negra criminosa.

Aliás, é curioso o fato de que os principais lemas e títulos do partido, em francês, seguem uma tradução não literal, optando por uma espécie de eufemismo em relação à expressão em alemão, muito mais direta.

O nome do partido em francês é União Democrática de Centro; em alemão: Partido do Povo Suíço. O slogan do partido em francês: "Por uma Suíça forte"; em alemão: "O partido da classe média". E por aí, vai.

Como interpretar essas diferenças? Trata-se de uma hipocrisia da Suíça francesa? Ou seria a Suíça francesa menos penetrável ao discurso nacionalista e racista?

Por mais segurança... (1)


Novamente, na BBC.

O design gráfico suíço é conhecido por seus traços simples, mínimos, claros. Infelizmente, porém, às vezes é necessário alguma criptologia. Nesse atualíssimo e lamentável cartaz de um partido político suíço, eu gostaria de destacar alguns elementos biopolíticos.

1) a convocação de um pacto de segurança (legitimado pelo referendum);
2) a identificação da população com um rebanho de ovelhas que requer o cuidado de um pastor;
3) o processo de limpeza racial mediante a exclusão para fora do rebanho do elemento degenerado;
4) a idéia de uma vinculação entre degeneração da raça, minoria degenerada e criminalidade.

6

– Tá nervoso, meu? Respira!

Artista implanta orelha em braço


Veja a reportagem no site da BBC.

Em linguagem biológica, a forma do corpo humano (natura naturata) deriva de uma genealogia, em que o acaso das mutações e a seleção natural são os agentes operantes (natura naturans); e não um princípio transcendente e uma finalidade divinos; e não um mecanismo imanente inscrito na essência genotípica humana, o DNA; e não, e muito menos, o próprio sujeito do corpo.

Em linguagem política, a forma do corpo humano não teria "nada" de natural, não obteria seu modelo, sua idéia, de sua própria essência, mas de um dispositivo de biopoder. No modelo político, como no modelo biológico, a idéia e a matéria do corpo são exteriores uma à outra. Mas no político, o aspecto do corpo humano não deriva de um processo seletivo-evolutivo, mas é modelado pelo dispositivo de poder (a natura naturans do logos político) em que está imerso. Em sua incontornável inserção no biopoder, o corpo aparece como sujeito de uma certa saúde, de uma certa sexualidade, de uma certa raça. Nesses biodispositivos, o discurso biológico não se separa do político.

Em estética, surge, enfim, a possibilidade da idéia (o aspecto visual) do corpo derivar do próprio sujeito do corpo. O sujeito do corpo faz do próprio corpo o medium de sua expressão. Isso é, ou pode ser – sob certas condições-limites, das quais não se falam aqui –, parte de uma técnica de si, de uma estética da existência. O sujeito biológico e político faz-se sujeito ético, captura-se a si mesmo como idéia e causa adequada do seu corpo próprio.