Artista implanta orelha em braço


Veja a reportagem no site da BBC.

Em linguagem biológica, a forma do corpo humano (natura naturata) deriva de uma genealogia, em que o acaso das mutações e a seleção natural são os agentes operantes (natura naturans); e não um princípio transcendente e uma finalidade divinos; e não um mecanismo imanente inscrito na essência genotípica humana, o DNA; e não, e muito menos, o próprio sujeito do corpo.

Em linguagem política, a forma do corpo humano não teria "nada" de natural, não obteria seu modelo, sua idéia, de sua própria essência, mas de um dispositivo de biopoder. No modelo político, como no modelo biológico, a idéia e a matéria do corpo são exteriores uma à outra. Mas no político, o aspecto do corpo humano não deriva de um processo seletivo-evolutivo, mas é modelado pelo dispositivo de poder (a natura naturans do logos político) em que está imerso. Em sua incontornável inserção no biopoder, o corpo aparece como sujeito de uma certa saúde, de uma certa sexualidade, de uma certa raça. Nesses biodispositivos, o discurso biológico não se separa do político.

Em estética, surge, enfim, a possibilidade da idéia (o aspecto visual) do corpo derivar do próprio sujeito do corpo. O sujeito do corpo faz do próprio corpo o medium de sua expressão. Isso é, ou pode ser – sob certas condições-limites, das quais não se falam aqui –, parte de uma técnica de si, de uma estética da existência. O sujeito biológico e político faz-se sujeito ético, captura-se a si mesmo como idéia e causa adequada do seu corpo próprio.

2 comentários:

Anônimo disse...

body art, body tool, body lab...

Anônimo disse...

É mais fácil mudar a si mesmo do que mudar o mundo.

Bom, essa é uma máxima da sabedoria, que num certo desdobrar pode parecer simples comodismo, mas em outro mostra a conexão da ética, da prática de si, com a política.

Nesse sentido, mudar a si mesmo seria o primeiro e mais importante passo para mudar o mundo.

A body art, body tool, body lab, parece interpretar sua ação conforme esse segundo sentido: sua ação quer mudar a si para mudar o mundo.

A body art é uma arte do self, mas uma arte do self enquanto corpo. Sendo assim, a body art agencia a mesma matéria (o corpo, a vida) que é investida pelos dispositivos de poder sobre o corpo. Como o biopoder, sua linguagem articula pedaços de corpo. Ela aceita a determinação disposta do corpo sobre o sujeito, para operar sobre esse corpo uma sobredeterminação reflexiva, uma autodeterminação.

As formas de resistência biológica (corporais e vitais) ao poder sobre o corpo e sobre a vida, ao manter-se no mesmo plano de forças, reforçam e tornam mais sólido o elo que mantém e dá coerência e unidade ao dispositivo de poder. Mesmo se o transformam, elas aprofundam o dispositivo.