Por que não fazer o mal?

Afinal, por que devemos aderir à boa ação? – pergunta que deixa muita gente inquieta. Suponhamos que podemos conhecer o que é o bem e o correto. O que nos leva, afinal, fazer o bem e não o mal? Por que aderir ao valor do bem? Em outras palavars, qual o fundamento do valor da moral?

Acho que Hannah Arendt, envolta com Sócrates, nos dá uma boa resposta*. Por que não se tornar um assassino, quando já não há um Deus onisciente, mesmo quando temos a certeza de que nosso crime passará despercebido aos olhos de todos?

Ora, responde Arendt, quem gostaria de estar junto a um assassino, para sempre? Se nos tornarmos assassinos, estaremos na obrigação de estar junto a um. Pior, estando na companhia de um assassino, perceberemos o mundo, como que povoado de assassinos. Viveremos perseguidos pela ameaça do nosso próprio assassinato. Já não suportaremos estar junto a nós.

Isso, esse estar junto a si, porém, não é tão simples. Nem todo mundo está junto a si, entra em contato consigo mesmo. Nem todo mundo convive consigo mesmo. Só quem pensa. Quem está incapacitado para o pensamento, perde a capacidade de estar junto a si, perde a consciência de si e a consciência moral. Quem não pensa mais, quem está impedido de estar consigo, enfim, pode acabar matando...



(*) Cf. ARENDT, Hannah. Filosofia e política [1955]. Trad. Helena Martins. Ou ainda: Pensamento e considerações morais [1970]. In: A dignidade humana: ensaios e conferências. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.

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