Chega-se à expressão “individualismo de massa” como diante de um oximoro. Afinal, a massa é a denegação do indivíduo; e vice-versa.
Para pensar o “individualismo de massa” é preciso partir do processo de individualização até o seu ismo.
No fim da individualização, o indivíduo se torna o fundamento do real. O centro desde o qual se desenha a circunferência, o limite e a abrangência do plano do real. O indivíduo é o centro de tudo, T.
No simples individualismo, o indivíduo a é o centro de A; o indivíduo b, o centro de B; x, de X; e assim por diante.
No “individualismo de massa”, cada indivíduo é um centro, como no individualismo simples, mas cada um é o centro de um único e mesmo círculo M. Esse é o seu aspecto de massa.
A totalidade, no “individualismo de massa”, é amarrada não desde o centro, que é múltiplo, mas desde a sua abrangência, que é uma única.
O “individualismo de massa” é um mesmo e único círculo, uma mesma e única abrangência do real, uma realidade idêntica; círculo feito, porém, desde tantos centros quantos forem os indivíduos que compõem a massa.
Cada indivíduo-centro que compõe a massa é o ponto de sustentação do real, mas todos eles sustentam um real que, apesar de multicentral, é um único e mesmo real, homogeneizado.
Este círculo homogêneo do qual cada um, separadamente, é o centro de constituição, é, para os críticos do “individualismo de massa”, a sociedade de consumo, concebida como “o reino de um indivíduo ávido de consumir sempre mais”*, um reino de muitos reis uniformes no seu comando.
Essa crítica à sociedade do consumo confunde-se com a crítica elitista à democracia no desprezo das massas que desprezam as elites**. Contra isso, é preciso insistir na democracia como o reino da igualdade não massificada ou como o reino da complexidade sistêmica ou convergente das diferenças. Insistir que a democracia não é constituída pela massa, mas pela potência complexa da multidão.
(*) RANCIÈRE, Jacques. La haine de la démocracie. Paris: La Fabrique, 2005. P. 27.
(**) Conferir: SLOTERDIJK, Peter. O desprezo das massas: ensaio sobre lutas culturais na sociedade moderna. Trad. Claudia Cavalcanti. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
O “individualismo de massa” é um mesmo e único círculo, uma mesma e única abrangência do real, uma realidade idêntica; círculo feito, porém, desde tantos centros quantos forem os indivíduos que compõem a massa.
Cada indivíduo-centro que compõe a massa é o ponto de sustentação do real, mas todos eles sustentam um real que, apesar de multicentral, é um único e mesmo real, homogeneizado.
Este círculo homogêneo do qual cada um, separadamente, é o centro de constituição, é, para os críticos do “individualismo de massa”, a sociedade de consumo, concebida como “o reino de um indivíduo ávido de consumir sempre mais”*, um reino de muitos reis uniformes no seu comando.
Essa crítica à sociedade do consumo confunde-se com a crítica elitista à democracia no desprezo das massas que desprezam as elites**. Contra isso, é preciso insistir na democracia como o reino da igualdade não massificada ou como o reino da complexidade sistêmica ou convergente das diferenças. Insistir que a democracia não é constituída pela massa, mas pela potência complexa da multidão.
(*) RANCIÈRE, Jacques. La haine de la démocracie. Paris: La Fabrique, 2005. P. 27.
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