O documentário: a ordem e a conexão das coisas


A relação entre o filme-documentário e a ficção e a realidade pode assumir diferentes proporções, mas é impossível que o documentário não proceda a uma seleção e a um arranjo dos fatos reais; e seleção e arranjo são procedimentos que, se não distorcem completamente a realidade, inventam uma ordem (que põe os fatos reais sob uma relação hierárquica de importância) e uma conexão (que expõe a maneira pela qual os fatos se ligam uns aos outros) que é distinta da ordem e da conexão pela qual os fatos se manifestam, aparecem ou acontecem, na realidade.

De tal modo que, por mais realista que seja, todo documento de cultura, em sua elevação, como pensava W. Benjamin, lança sua sombra sobre o relevo menos elevado, ocultando assim diversos aspectos da realidade.

Mas a relação entre o documentário e a realidade é tão complexa que ocorre o documentário obter acesso a certos aspectos do real que, antes, permaneciam ocultos, sob as camadas mais aparentes do real. Como parece ocorrer no recentíssimo caso do documentário televisivo sobre a vida do milionário Mr. Durst (no final da filmagem do documento, Mr. Durst, surpreendentemente, confessa ter realmente cometido, ao longo da sua vida, os três assassinatos dos quais era suspeito).




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