Em Freud*, massa e poder são pertinentes a uma mesma e única estrutura, aquela da psicologia individual do complexo de Édipo projetada ao nível sociológico.
Em Canetti**, massa e poder constituem, genealogicamente, duas séries distintas. O poder manifesto é um processo de contínua polarização das estruturas diferenciais de comando-obediência. O poder dá ordens ou, em outras palavras, ameaça de morte. A massa, por sua vez, é gerada na e pela igualação. A massa resulta de um alívio, de um gozo. O poder, pelo contrário, da dor da obediência. No limite, o poder, cuja essência é a sobrevivência, tende à aniquilação em massa. O poder absoluto é o poder de sobreviver à morte de todos os demais, os desapoderados. A sobrevivência é o poder em ato.
(*) FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos. Obras completas. Vol. 15 (1920-1923). Trad. Paulo César Lima de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
(**) CANETTI, Elias. Massa e poder. 4ª reimpressão. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 [1960].
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