Acrasia democrática

A democracia (enquanto governo), pretenso reino da liberdade, na sua impotência diante das forças mecânicas, anônimas e cegas do capitalismo, com efeito, é servidão. 

Não nos espanta que a incompetência dos governos democráticos e a fraqueza da vontade dos representantes do povo nos deixem às portas da repetição do voluntarismo, qualquer que seja, de direita, de esquerda, militar ou religioso. É preciso insistir, a crítica à acrasia do governo democrático, daqueles expertos do político que sabem o que é o melhor, mas perseguem o pior, espelha muitos pontos de uma velha crítica voluntarista que, em outras épocas, conduziu a democracia ao nazismo: “O declínio espiritual da terra está tão adiantado que as nações correm o perigo de perder o que resta de sua energia espiritual, que possibilita ver e ponderar esse declínio (tomado na relação com a história do ‘ser’). Essa simples observação não tem nada a ver com o pessimismo cultural nem com qualquer otimismo; pois o obscurecimento do mundo, a fuga dos deuses, a destruição da terra, a transformação do humano em massa, o ódio e a suspeita de tudo o que é livre e criativo, assumiram tais proporções sobre toda a terra que tais categorias infantis como pessimismo e otimismo tornaram-se, desde a muito tempo, ridículas”*. 

Onde a salvação está aparente, florece também o perigo.






(*) HEIDEGGER, Martin. An Introduction to Metaphysics. London: Yale University Press, 1987 [1935, 1953]. P. 38.


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