Massa no cinema?

André Bazin* contestou a ideia de Rosenkrantz, que pretendia por meio dela distinguir o cinema do teatro, ao defender que, no cinema, o processo de identificação do espectador com os personagens da tela é natural e passivo, enquanto, no teatro, ao contrário, a presença dos corpos dos atores impede essa identificação imaginária natural, mas exige, para tanto, da parte do espectador, uma vontade ativa e uma inteligência consciente, a fim de abstrair a realidade objetiva dos atores.

Ainda de acordo com Rosenkrantz, a identificação imaginária dos espectadores com o herói do filme perfaz transitivamente [se A=B, se C=B, então, A=C] a identificação entre os espectadores, transformando-os em uma massa, com a homogeneização das individualidades e o rebaixamento da capacidade intelectual e da consciência*. Algo que não ocorreria no teatro, onde a identificação exige um esforço intelectual e de consciência.

Segundo Bazin, no entanto, esse critério não é definitivo; nem a distinção entre teatro e cinema, absolutamente intransponível (ele defende o trânsito de conteúdo dramático entre um e outro). Já que “o cinema dispõe de procedimentos de mise-en-scène que favorecem a passividade ou, ao contrário, excitam mais ou menos a consciência”**. Idem para o teatro, no sentido inverso. De tal maneira que, o critério inequívoco da distinção entre cinema e teatro já não se pode encontrar aí.





(*) Características atribuídas à massa por Gustave Le Bon (Psychologie des foules, 1895).

(**) BAZIN, André. Teatro e cinema [1951]. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. In: O que é o cinema? São Paulo: Cosac Naify, 2014 [1985]. Teatro e cinema [1951]. P. 177.

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