O “humano democrático”: o filho legítimo dessa cidade-sistema sem princípio sistemático que é a democracia sem contratos.
Para Platão: “nesta cidade, os animais que estão a serviço dos homens são mais livres que em outras [...]. É, ali, como diz o provérbio, que as cadelas se tornam absolutamente semelhantes às suas donas, e os cavalos e os burros, acostumados a se mover, com soberba, em completa liberdade, esbarram e empurram, a todo instante, o passante que eles encontram em seu caminho, se este, desatento, não se põe de lado.”*
O contrato político (sempre antidemocrático) é a alienação mesma da potência de cada um, em troca de vida, da vida dada (que já se tem). A alienação da potência de cada um constitui o poder sobre todos. Esse poder que, justamente, garante o cumprimento dos contratos (e não apenas do contrato político; também daqueles de serviço que as “bestas” estabeleceriam com seus senhores se não fossem bestas).
Porém, o humano democrático, essa espécie bestial de humanos, nada sabe nem quer saber desses contratos. Como as bestas, que são sem palavra, não cumpre promessas assim que lhe soltam os arreios.
O humano democrático, ele diz: _não tenho nada a ver com isso, com essas promessas. Não escolhi nascer, nem viver aqui-agora. Não quis esse contrato a que sou forçado. Não nasci devedor. Não devo nada. A ninguém.
(*) PLATÃO. La République. Trad. Georges Leroux. 2e ed. Paris: GF Flammarion, 2004. 563c. P. 433.
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