“Somente Deus tem um conhecimento perfeito e verdadeiro dos céus... Mas Ele nos deu a faculdade de conhecer as coisas que estão sob os céus; aqui é o mundo do ser humano, aqui é a sua morada, no qual ele foi colocado, e do qual ele mesmo é uma porção... As faculdades humanas são demasiado deficientes até mesmo para compreender a prova que os céus contêm para a existência Daquele, que os coloca em movimento. De fato, é ignorância ou um tipo de loucura cansar nossas mentes tentando descobrir coisas que estão além do nosso alcance, sem dispor dos meios para aproximarmo-nos delas. Devemos nos contentar com o que está a nosso alcance, e o que não pode ser aproximado por inferência lógica deixemos para aquele [o profeta] dotado daquela grande e divina influência...” (Maimonides, p. II, chap. XXIV, p. 198)Maimonides dirigia sua crítica até mesmo à metafísica de Aristóteles, o filósofo excelente:
“Eu defendo [com base nos princípios da própria ciência aristotélica] que a teoria de Aristóteles é sem dúvida correta enquanto trata das coisas que existem entre a esfera da lua e o centro da terra. [...] Mas o que Aristóteles diz a respeito das coisas acima da esfera da lua é, com poucas exceções, mera imaginação e opinião”. (Maimonides, p. II, chap. XXII, p. 192)Isso é mais ou menos o que Kant diz, na sua crítica à metafísica (embora para Kant, é claro, a astronomia esteja ao alcance da ciência humana).
Guardadas as devidas diferenças históricas, ambos os autores, defensores de uma ciência positiva, limitada ao nosso mundo, baseada apenas nos dados dos sentidos e nas inferências que podemos fazer a partir deles, vêm com bons olhos, porém, o conteúdo revelado pela religião verdadeira.
Kant também enxergava perfeitamente o interesse da razão, no seu aspecto prático, em aceitar certos postulados religiosos como a existência de Deus, a imortalidade da alma, a liberdade do ser humano.
MAIMONIDES, Moses. The Guide for the Perplexed. Trad. M. Friedländer. 2 ed. New York: Dover Publications, 1956 [1881, 1904].
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