O comentário
Extremamente mal tratado, vilipendiado, tem sido o comentário. Comentar seria inútil, pouquíssimo criativo, sinal de heteronomia. Mas o comentário é a própria história da filosofia. Sem o comentário, haveria apenas acúmulo de páginas, as bibliotecas seriam como a Internet, não existiriam a imprensa nem as livrarias. O comentário filtra, seleciona, coleciona, amalgama, divide, mistura, embaralha, explica, reduz, multiplica, exagera. O comentário é o carnaval do pensamento, o eterno retorno da mesma palavra. Não nos envergonhemos, nós, os comentadores. Sem o carnaval, não haveria história. Isso parece irônico, mas não é. Mas então, por que sem carnaval não haveria história? Bom, fui longe demais. O carnaval não tem nada a ver com o comentário. Retiremos essas últimas frases, e prossigamos com o elogio. O comentário é a própria história da filosofia. Sem o comentário, não existiria a imprensa, haveria apenas acúmulo de páginas díspares, todas diferentes umas das outras. Não haveria repetição, ordenamento, compartilhamento. O comentário é o cilindro de uma máquina impressora. O comentário manteve Platão, Descartes e Kant vivos, presentes. Só é carnaval, porque agrupa aqueles verbos todos: filtra, seleciona, coleciona... Essas ações todas, toda essa atividade parece uma dança sem lei, um carnaval, uma euforia de fim de mundo, antes do retorno por vir e iminente da ordem, tão ansiada.
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