Saí da sala de cinema, pensando não ter gostado do filme. Essa miséria tão nua, essa fratura tão exposta, essa sonoplastia tão deficiente... Depois, porém, a opinião mudou. Mas já não se trata tanto de gosto, de satisfação, de comprazer. Novamente, está o cinema envolto com a nudez das vidas, com as questões da imanência. "Por aqui as coisas se fazem, por aqui também elas vão se desfazendo" – frase que lembra, e deforma ligeiramente, o provérbio "aqui se faz, aqui se paga". A cana devasta a terra que a produz. A cana consome o homem que a consome. O suco da cana torcida, pela boca, penetra na garganta, e tudo é um só, a usina e o pescoço torcido do homem. A cana é moída, as mulheres e os homens são moídos, e tudo retorna ao pó, de onde novamente brotam. De repente, porém, em meio a esses ciclos sem saída, no meio do eterno retorno do mesmo, o ator nos olha nos olhos e diz: "no cinema, a gente faz o que quer". E isso talvez queira dizer que, no mundo da vida, espectador, aí no seu mundo, aqui no nosso mundo, as coisas sejam ainda mais cíclicas, ainda mais presas em si mesmas.
Um filme importante para pensarmos o que é esse bio dos biocombustíveis, que vida é essa que aí se queima.
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