Não vou procurar dar uma resposta a essa questão (que pretensioso seria), mas interrogá-la. "O que se pode esperar?" Seria essa uma questão fundamentalmente religiosa? O que se pode esperar de quê? Da vida, do futuro, do destino, do destino do mundo, de Deus? Trata-se de uma inquietude do ser humano, que desvia de si a questão do futuro, e interroga a Deus?
O que vem é determinado pelo que faço hoje? Há uma relação de causalidade entre o presente, e através dele, entre o passado e o futuro? Ou, pelo contrário, pode-se esperar qualquer coisa? Ou, pelo contrário, o que vem, o futuro que vem, não está de modo algum vinculado ao presente, é puro acaso? E se não é um puro acaso, pode ser uma oferta completamente gratuita? E se o que vem, assim do nada, vem como oferta, será uma oferta que posso aceitar ou recusar? Ou o que virá virá como imposição, como um destino incontornável, do qual eu não conseguirei, qualquer que seja ele, me livrar? E se é puro acaso, ou pura gratuidade, o que virá, por que devo pensar nele, agir no presente como se o futuro dependesse disso? E se é puro acaso o que virá, qual é o sentido do presente?
Devo aceitar a idéia de uma determinação do futuro pelo presente, então, apenas como uma idéia reguladora, que me sirva pelo menos de orientação? Ou, pelo contrário, devo regular-me pela idéia de que meu futuro é livre de qualquer determinação passada?
Mas por que me perguntar, afinal, sobre o que posso esperar? O que quero negociar no presente com tal pergunta? Meu esforço na retidão de minha conduta, meu empenho em desviar-me do pecaminoso, o qual eu, no fundo, desejo entretanto carnalmente? Essa pergunta pelo que pode acontecer cava em mim até um fundo, em que reconheço a minha verdade de pecador, de hipócrita, de simples negociador, de alguém incapaz de agir por princípios, independentemente das conseqüências?
Através da urgência dessa pergunta pelo que podemos esperar, podemos nos ver a nós mesmos impossibilitados de lidar com nosso presente, tal como ele deveria ser, autenticamente, se estivesse livre da pergunta pelo futuro? A emergência da questão pelo futuro já não compromete a autenticidade e a pureza do presente?
2 comentários:
essa pergunta è carregada de passividade, e pensamentos hipotéticos. O que posso esperar se..? e se...?
Passividade na espera? Nem sempre. Posso espero alguma coisa no futuro da minha atividade no presente.
Hipóteses? Sim. São tantos se's que o pensamento se embaralha, como num jogo de xadrez com um jogador muito mais capaz do que nós. Como jogar xadrez com o Destino? É possível jogar, desde que não seja para ganhar.
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