Esta talvez seja uma notícia. – Pleno inverno e 34º em Florianópolis. Contados, cada um deles (dos graus) por um vendedor-produtor de artesanato, conhecido meu, que trabalha nos fins de semana, na pracinha da Lagoa. A notícia acaba aqui.
Aquecimento global – essa é a expressão da certeza, em que a certeza se expressa. Talvez seja, certamente é, um vício meu (o contrário de uma virtude), cacoete do ofício ou do desemprego, mas sempre duvido das certezas. Entretanto – entenda-me bem –, realmente está ocorrendo um aquecimento global, os glaciares estão realmente encolhendo, o gelo dos pólos está derretendo de verdade. Se confio no testemunho do artesão da pracinha da Lagoa, também confio no testemunho da mídia. Negar o aquecimento seria uma espécie de revisionismo do presente, que tentasse ler de outro modo a história do presente, para refutar o crime da humanidade contra si mesma e contra tudo que a envolve e acolhe – o suicídio, homicídio e matricídio diário com o qual convivemos. Tudo isso, toda essa monstruosa destruição do vegetal, do animal, do mineral, está acontecendo, é real.
Entretanto não vejo certeza nisso, nem evidência. Justamente porque a pretensão de certeza e de evidência estão na origem de toda essa destruição. Buscar, no aquecimento global, certeza e evidência é continuar no mesmo plano daquilo que está na origem histórica do aquecimento, como condição de sua possibilidade. A certeza encobre ou destrói o incerto que não é evidente; e a evidência encobre ou destrói o ambíguo que é incerto.
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