Ciência por semelhanças (I)

A janela estava aberta, e o sol da tarde, o calor, acho que foi isso, teve um efeito sobre a capa de plástico do grande dicionário, na pequena mesa de apoio, ao lado de meu lugar de trabalho. Quando, ao final da tarde, fechei o volume, percebi que o plástico, com o qual eu costumo encapar, para protegê-los, os livros que utilizo com freqüência, havia, provavelmente devido ao calor, se deformado, e apresentava ondulações, mais ou menos regulares e concêntricas, semelhantes a impressões digitais, a uma só grande impressão digital. Como se um grande dedo houvesse imprimido suas linhas no plástico da capa do dicionário. A semelhança era tanta, que me fez pensar, provavelmente devido ao sol da tarde, que o calor, sim o calor, pudesse ser a causa dessas linhas tão particulares que apresentamos em nossos dedos. O calor, no momento de nossa concepção, nos deixaria essas marcas indeléveis nas pontas dos dedos. E talvez outra coisa, talvez a nossa pele possuísse exatamente essa estrutura, essa mesma estrutura das móleculas que formam o plástico da capa, o qual, encontrando-se em condições próximas de temperatura, de pressão, àquelas do instante da formação de nossas mãos, reagisse, deformando-se e corrugando-se, tal qual nossa pele, tal qual a fina epiderme de nossos dedos fetais, sob a força e o calor do útero. Fiquei preso a essas comparações e a todas considerações que delas derivavam, por alguns minutos, até ouvir o chamado do telefone, na sala ao lado, e me levantasse para atendê-lo.

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