Encruzilhada

Num mesmo plano, caminhos diferentes, quando retos, acabam sempre se cruzando.

Descartes, todo mundo sabe, diz: – antes de termos certeza, não afirmemos nada. Esse é o grau zero da liberdade humana – o poder imenso de nossa vontade nos permite não dizer sim a nada, a respeito do que ainda não temos uma demonstração absolutamente convincente.

Sobre uma outra reta, Khomeini fala outra coisa. Nada nos obriga a dizer não àquilo cujo erro ainda não foi comprovado. Deveríamos suspender nossa descrença, e considerar as coisas afirmadas como possíveis até que tenhamos uma prova absoluta da sua impossibilidade. Esse é, para Khomeini, o primeiro passo da fé.

O plano comum aos dois é a vontade humana livre. Neste plano, seja com Descartes, seja com Khomeini, por caminhos diferentes, chegamos ao mesmo lugar: essa cruzada em que suspendemos nossas crenças e nossas descrenças. Um lugar de liberdade, onde todo o duvidoso ainda é possível e ainda não é necessário.

O grau zero da liberdade e o primeiro passo da fé são o ponto de cruzamento de Khomeini com Descartes. A partir daí, podemos seguir caminhos diferentes.

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