Continuamos sobre o tema da Fortuna. O que se segue é apenas um desvio, uma voltinha, para nos familiarizarmos com a paisagem antes de retornarmos à estrada principal.
Stephen Hawking começa assim seu livro de divulgação científica: “Albert Einstein, o descobridor das duas teorias da relatividade...”*.
Não sei dizer se é um problema de tradução – e isso aqui não tem importância –, mas me chamou a atenção o uso da palavra ‘descobridor’. Descobrir é retirar a coberta que encobre alguma coisa, que por esse ato de descobrimento se revela tal como é de verdade. Descobrir é desvelar, retirar o véu que encobria e turvava a visão.
Por isso, há aqueles que reclamam que não houve propriamente um Descobrimento do Brasil. Porque o Brasil não jazia sob a travessia do Atlântico. De fato, o Brasil não foi descoberto, mas ‘Brasil’ é o nome dessa viagem secular pela qual os portugueses encobriram o sem-nome. Seria mais adequado falar de Encobrimento do Brasil e mais bonito, de Invenção do Brasil. 500 anos de Invenção do Brasil.
Da mesma forma, eu não diria que Einsten descobriu a teoria da relatividade, mas que a inventou a partir de uma interpretação criativa de fenômenos escolares (isto é, fenômenos ad hoc, que envolvem um longo ciclo histórico fechado sobre si mesmo, e que os lógicos chamam de ‘petição de princípio’). A teoria da relatividade não é uma descoberta, mas uma coberta. Quem sabe, começar assim o livro de Hawking: “Albert Einstein encobriu o sem-nome do mundo com as duas teorias da relatividade...”?
*HAWKING, Stephen. O universo numa casca de noz. Trad. Ivo Korytowski. São Paulo: Mandarim, 2001.
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