Anjos ou demônios (2)

Entretanto, pensar ou discorrer sobre nossa natureza angelical ou demoníaca não pertence, segundo Espinosa, à metafísica, mas à teologia. Para Espinosa, nas Cogitata*, anjos são assunto da teologia. À metafísica pertence somente o que pode ser conhecido naturalmente, isto é, mediante a luz natural. Se tomamos exclusivamente essa afirmação, existe todo um campo do conhecimento, o revelado, que extrapola o conhecimento natural, alcançável pelo homem, por si mesmo.

(*) SPINOZA, Baruch. Pensamentos metafísicos [1663]. Trad. Marilene de Souza Chauí. In: SPINOZA, Baruch. Espinosa. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000. Pp. 25-101.


Essa descontinuidade entre metafísica e teologia, talvez possa desaparecer diante de um segundo movimento da crítica do conhecimento humano, o perpetrado por Kant, que estabelece a distinção entre a metafísica e o conhecimento científico baseado na experiência do mundo.

Quando Kant afirma que não há intuição intelectual, afirma entre outras coisas que não podemos intuir (perceber para conhecer) intelectualmente a Deus. A revelação, portanto, ou passaria por uma experiência de mundo, e assim não seria mais totalmente revelada – pois toda experiência de mundo carrega consigo a forma das categorias a priori do nosso entendimento –, ou não possuiria propriamente um conteúdo de conhecimento, sendo simplesmente o dom da fé em uma idéia da razão.

Anjos ou demônios (1)

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