Entre a Utopia e o Lugar-comum

Quando se quer produzir um movimento, esboçar algo de novo, na vida ou na idéia da vida, é incrível a facilidade e a rapidez com que, ao invés de nos deslocarmos, nos desgarramos completamente. Quando se tenta dar nova faceta positiva ao real, tão fácil se chega à Utopia. Isso se deve a que, entre a Utopia e a plenitude opaca do real, entre o desvario visionário e a resignação cega, reside uma estreita e instável faixa de possibilidades. Tão fácil escorregar para um ou outro lado. Tão rapidamente deslizamos para a esterilidade do não-lugar, do sem sentido, tão prontamente reconhecemos nossa impotência em inovar, e permanecemos na mesmice do mesmo.

Para evitar a Utopia, com certeza, os saltos não podem ser grandes. Para evitar o Lugar-comum, entretanto, é preciso insistir no salto, na mínima incorporação sintética de uma outra realidade possível.

A atitude filosófica de crítica diante do real, exige a mesma atitude diante do irreal. Imaginação, fantasia, sonho, poesia precisam passar pelo crivo da crítica, e ainda assim ultrapassar, mediante a própria crítica, a cortina de ferro do real. Por isso é tão difícil e delicado pensar uma inovação plausível.

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