Conversávamos sobre psicanálise, sobre os estranhos pressupostos do método psicanalítico. Seu defensor, depois de reconhecer as dificuldades da psicanálise como conhecimento, saiu com esse argumento: – pelo menos, disse, com fundamentos sólidos ou sem, ciência ou não, a psicanálise muitas vezes funciona, mitiga o sofrimento de muitos humanos.
Obviamente, esse argumento é insustentável. Várias drogas aliviam a dor momentaneamente, enquanto aprofundam a doença. Não podemos agir cegamente, em nome da dor humana... se nosso problema é a verdade cristalina e última.
Mas o argumento é realmente insustentável? Sim, se nosso problema for, de fato, a verdade ou a cura última. Não, se nosso problema for, justamente, a dor humana. Enfim, se realmente a psicanálise alivia a dor humana, então, ora... o que podemos discutir?
Nosso mundo é um mundo de sofrimento. Não só – está certo –, mas há muita, muita gente, aqui, agora, que sofre. Um pouco menos de sofrimento já seria um bem enorme. Além disso, nesse mundo, a psicanálise é uma coisa de nada, serve ou não serve para muitos poucos, e... não polui. Podemos deixar a psicanálise para lá, em nossa margem de tolerância, se temos algo mais sério a fazer.
Mas... E se, em nossa seriedade, nos propuséssemos a isso – a só agir para diminuir a dor humana – como principal objetivo do que fazemos, afinal, continuaríamos pensando?
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