A dios a Momo

Ontem, foi a vez do Uruguai. Não sei por quê, um país que me inspira esperança. Pelo seu tamanho talvez, pela sua melancolia, pela sua despedida. Se o fio político que costura os brasileiros, de alguma forma, é a compartilha da violência, no Uruguai, esse fio é a saudade dos que partem. "Uruguai, nunca mais" - canta a Murga.
Nesse filme ressurge, ao contrário dos outros filmes da semana, ao contrário da imanência total do filme de Brant, das pequenas janelas do filme de Arroz, da desidentificação desejada pela chilena do Sul, do desespero de Sol, ressurge o ser para além da aparência. "Nem tudo é como parece ser", diz o mendigo, no filme uruguaio. Afinal, pela primeira vez, nesse festival, nessa mostra, transborda o além, nas suas diversas formas: magia, transfiguração carnavalesca, ilusão, espiritualidade, religiosidade, também poesia.
O difícil é manter viva, em nosso dia-a-dia econômico, no jogo de nossas capacidades e necessidades, essa remissão, essa ponte, esse elo com o que nos ultrapassa e, nessa ultrapassagem, nos redime. No fundo, não se trata tanto de uma dificuldade. Pois nisso, ou para isso, não há como se esforçar. Então, falemos de um dado, de um acontecimento, de um acontecido que se presentifica.
Não se trata, no descalabro do nosso mundo biológico, físico, biopolítico, mundo da finitude, como se queira, de saltar para o além ou de se posicionar na perspectiva de um outro mundo, mundo da salvação, mas de encontrar o outro no mesmo. Misturar os elementos. "Nem tudo é como parece ser".

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