Governamentalidade remete à questão do sujeito.
Tomemos essa definição – governamentalidade como campo estratégico das relações de poder em sua mobilidade, reversibilidade*.
Temos aqui a noção de um equilibrio, mas também de uma instabilidade. Mas este equilíbrio e esta instabilidade da governamentalidade se dão entre quê?
Entre o que poderíamos chamar de modo ou dispositivo de assujeitamento (prática discursiva de produção do sujeito a partir da relação entre o poder e a verdade) e o modo ou dipositivo de autossubjetivação (prática de si como sujeito da verdade).
Exemplo da instabilidade, da reversibilidade – o modo de autossubjetivação coletiva próprio à Insurreição Iraniana (1978) foi transformado, reconfigurado, apropriado, na possibilidade de reversão da governamentalidade, em dispositivo de assujeitamento durante os anos da Revolução (1979 em diante).
Na sociedade unidimensional, por outro lado, se ela houvesse, não há mais o jogo entre o assujeitamento e a autossubjetivação. Ambos os dispositivos coincidem. Fecha-se, por uma duração, o jogo entre um e outro, entre poder e resistência. Desaparece a governamentalidade, cuja essência está na instabilidade do equilíbrio, acerca da verdade, entre sujeito e poder.
Chegamos à essência da governamentalidade como instabilidade do equilíbrio entre assujeitamento e subjetivação, na sua referência à verdade.
(*) FOUCAULT, Michel. L’herméneutique du sujet: Cours au Collège de France, 1981-1982. Paris: Seuil/Gallimard, 2001 [1982]. Curso de 17/2/1982, 1ª hora. P. 241.
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