|Os acontecimento nos interpelam| ou |O indivíduo pluricorporal – IV|


Certamente, como as obras de arte, os acontecimentos nos interpelam. Nos atraem, nos questionam, nos convocam.

– Como te posicionas frente a isso que acontece?

Mas essa interpelação, essa exigência de “tomar partido” é também uma cilada. Não todas as vezes. Mas tende a uma armadilha, a um aprisionamento, a uma redução, a uma captura, quanto mais o campo da posição se coloca de maneira estreita e estritamente bipolar.

 – Tu estás deste lado ou do outro? Do nosso lado ou do lado dos outros? Tu és amigo ou inimigo? Estás na mira do nosso amor ou do nosso ódio?

– És por Kadafi ou torces pelos rebeldes? Em Florianópolis e São Paulo, és pelos criminosos ou pela polícia? No Oriente Médio, pelos judeus ou pelos palestinos?

A exigência de posicionamento frente ao acontecimento é também uma interpelação subjetivante. De fato, não o acontecimento, mas a interpelação do acontecimento quer ser uma função para o sujeito. O sujeito interpelado que se posiciona, que se posicione em função do acontecimento.

Toda tomada de posição, na unidade do sujeito, exige o alinhamento de todos os outros posicionamentos, genuinamente, coerentemente, seus.

Assim, à medida que respondemos à interpelação do acontecimento, à medida que nos posicionamos, que nos estabelecemos em uma posição fixa diante do acontecimento, vamos constituindo, também como uma exigência, também sob interpelação, uma posição única e unificada, desde a qual olhamos e avaliamos tudo o que acontece.

O pensamento estratégico, quando multiplica os posicionamentos e desunifica os sujeitos, combate a captura da interpelação.

Para o indivíduo pluricorporal, não se trata de “tomar partido”, mas de multiplicar, estrategicamente, as suas próprias posições.


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