Indivíduo pluricorporal III

A respeito de arte, Jean Luc Chalumeau disse o seguinte:

“Perante qualquer obra que se afirme arte, se deve adotar um ponto de vista e tomar partido, sob pena de renunciarmos a uma parte essencial da nossa humanidade”*.

“Tomar partido” quer dizer: colocar-se de um lado ou de outro, e concordar ou não com a afirmação: – isto, de fato, é arte!

Talvez pudéssemos dizer o mesmo, e ainda com mais urgência, acerca do presente:

“Perante o acontecimento, se deve adotar um ponto de vista e tomar partido, sob pena de renunciarmos a uma parte essencial da nossa humanidade”.

Com certeza, nós (eu falo por você também...) nos engasgamos com a palavra “partido”. O indivíduo não precisa ser um “partido”, para ser pluricorporal. “Tomar partido”, sem justificar a decisão tomada, é, para nós, a corrupção não só da humanidade como do pensamento.

Por outro lado, ao nos transpormos da arte para o presente, “tomar partido” não seria, para nós, emitir um juízo do tipo “isto é ou não é um acontecimento”. Mas “tomar partido” seria um juízo sobre a relevância do acontecimento para o presente: “isto merece ou não merece ser pensado”.

E o que seria pensar o acontecimento?


* CHALUMEAU, Jean Luc. As Teorias da Arte: Filosofia, crítica e história da arte de Platão aos nossos dias. Trad. Paula Taipas. Lisboa: Instituto Piaget, 2005. P. 12.

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