Metafísica nas montanhas

Por que “os Tarahumaras são obcecados por filosofia”? Porque “eles não creem em Deus”, porque “eles desprezam o corpo”, e porque “vivem somente de suas ideias” – três características dos filósofos segundo Artaud.
Porém – nossa premissa, aqui: – não existe, nem existirá, nunca, a metafísica acabada, perfeita. Disso, duas alternativas.
OU (1): a tarefa metafísica é inverter as metafísicas, ou seja, é caminhar na contramão do seu sentido lógico, é ir dos seus conceitos para as suas definições e postulados, para encontrar, ainda aquém deles, a sua fonte primeira, da qual jorra a sua inspiração. E talvez só haja uma única fonte para todas as filosofias: “o Essencial, quer dizer, os princípios segundo os quais a Natureza se formou”. Assim, a tarefa da metafísica é tornar-se uma mística.
OU (2): a tarefa da metafísica é reinventar-se (reencontrar-se), numa nova ficção – que afinal define não tanto uma outra posição do ser, mas uma nova posição do sujeito que ficciona, frente ao ser de que fala: “os Tarahumaras se dizem, se sentem, se creem uma Raça-Princípio”*.

(*) Para todas as citações: ARTAUD, Antonin. Les Tarahumaras [1936]. In: Oeuvres. Paris: Quarto Gallimard, 2004. Pp. 753-755.

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