Segue minha tradução para o português de uma tradução para o francês de um fragmento em alemão de Walter Benjamin.
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Fragmento teológico-político
Walter Benjamin (1921)
[p. 263] Só o messias, ele mesmo, perfaz todo devir histórico, nesse sentido que só ele redime, perfaz, cria a relação desse devir com o próprio elemento messiânico. Por isso, nenhuma realidade histórica pode, por si mesma, querer se referir ao plano messiânico. Por isso, o reino de Deus não é o telos da dinamis histórica; ele não pode ser posto como alvo. Historicamente ele não é um alvo, ele é um termo. Por isso, a ordem do [p. 264] profano não pode ser construída sobre a idéia do reino de Deus; por isso, a teocracia não tem um sentido político, mas somente um sentido religioso. O maior mérito de O espírito da utopia [1918], de [Ernst] Bloch é ter recusado vigorosamente toda significação política à teocracia.
A ordem do profano deve se edificar sobre a idéia da felicidade. A relação desta ordem com o elemento messiânico é um dos ensinamentos essenciais da filosofia da história. Esta relação condiciona, com efeito, uma concepção mística da história, cujo problema pode-se expor em uma imagem. Se a gente representa por uma flecha o alvo para o qual se exerce a dinamis do profano, por uma outra flecha a direção da intensidade messiânica, seguramente, a busca da felicidade da humanidade livre tende a se afastar dessa orientação messiânica; mas, assim como uma força pode, por sua trajetória, favorecer a ação de uma outra força sobre uma trajetória oposta, assim também a ordem do profano pode favorecer o advento do reino messiânico. Se o profano, então, não é uma categoria deste reino, ele é uma categoria, e entre as mais pertinentes, da sua aproximação imperceptível. Pois, na felicidade, tudo que é terrestre aspira a seu aniquilamento, mas é somente na felicidade que este aniquilamento lhe é prometido. – Mesmo sendo verdade que a intensidade messiânica imediata do coração, de cada indivíduo no seu interior, se adquire através da infelicidade, no sentido do sofrimento. Ao movimento espiritual da restitutio in integrum [restabelecimento no todo inteiro], que conduz à imortalidade, corresponde uma restitutio secular que conduz à [p. 265] eternidade de um aniquilamento, e o ritmo dessa realidade secular eternamente evanescente, evanescente na sua totalidade, evanescente na sua totalidade espacial, mas também temporal, o ritmo dessa natureza messiânica é a felicidade. Pois messiânica é a natureza, por seu eterno e total evanescer.
Buscar esse evanescer, mesmo para esses planos do homem que são natureza, tal é tarefa da política mundial, cujo método se deve chamar niilismo.
BENJAMIN, Walter. Fragment théologico-politique. In: Oeuvres I. Paris: Gallimard, 2000. Pp. 263-265.
Publicado somente em 1955, este texto foi redigido, segundo Gershom Scholem, em 1920-21, contemporâneo, portanto, de Crítica da violência: “[...] estas páginas não contêm ainda qualquer relação com as concepções marxistas. Elas se situam no terreno de um anarquismo metafísico [...]”.
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