Contribuição ao estudo do comportamento animal
Meu gato tem realizado performances. O que quero dizer com "performances"? Quero dizer que não se trata de um hábito seu. Do nada, ele descobriu essa coisa. Faz alguns dias. É muito provável que deixe de fazê-lo em breve. Essa coisa que é: _ele abre as tampas dos ralos do apartamento. Na varanda, no banheiro, na área de serviço, no outro banheiro. Aqui, ali, não todos ao mesmo tempo. Ele de vez em quando os destampa, um, outro, surpreendentemente. Parece que por brincadeira. A tampa fica ali, ao lado do buraco, desfuncionalizada. Chamo isso de performance porque, como disse, ele nunca foi de fazer isso. Isso é uma ação, uma invenção, uma intervenção no tempo, uma interferência dissonante, é voluntário, transforma, chama a atenção, exige uma reação. Isso me comove de pronto, não consigo deixar o ralo sem tampa. Vou lá e tampo o ralo aberto, profundo, garganta telúrica capaz de engolir o mundo, janela para o além. O gato me faz interagir com ele. A tampa do ralo e o ralo, como intermediários dessa interação. Uma intermediação. Não acontece o tempo todo. Não é uma fixação. Só quando ele decide, segundo sua lógica. Desarranjando, produzindo singularidades que rompem o encadeamento funcional das coisas umas nas outras, ele produz história. História animal.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Ai! Amo esses bichinhos!!!!
Sabem inventar a vida, agora o novo negócio, "nega-ócio", é descubrir e deixar exalar novos perfumes, vindos como voce mesmo escreveu lindamente de "gargantas telúricas"...estou morrendo de saudades dos meusinhos, sabes que estou na Bahia profunda, longe pra dedéu? Estou em Taipus de Fora, lugar páradisíaco, dá uma pesquisada pra ver...
Taipus de fora, tudo que é de fora me parece bem. Pensar de fora. Juiz de fora.
Postar um comentário