Identidade e narrativa


“Somos isso que contamos de nós mesmos”.

Duas objeções. A narrativa, num certo aspecto (n’outro, parece ser o contrário), restringe a complexidade da experiência, atém-se ao que considera essencial. Mas, em todos os seus aspectos, quando simplifica ou quando intensifica a experiência, há na narrativa uma espécie de falsificação, maior ou menor, do vivido. Então, se nos identificamos com a nossa própria narrativa, nos falsificamos. Identifico-me com isso que, de fato, não fui (ou não fui completamente).

Segunda objeção, psicanalítica. Há uma outra história viva por trás, por baixo, da história que o eu conta ou impõe para si (a ambivalência do “si” aqui é proposital; pois o “si” é anterior a “eu” e a “ele”), e com a qual se identifica. Uma história que nunca é completamente narrada (inenarrável).

Terceira objeção, ética. A narrativa conta o que se passou. Inventa o passado. E a identidade: eu sou isso mesmo que fui. Idêntico a mim mesmo. Na ética, trata-se porém do devir, da metamorfose (uma outra figura diferente da mesma forma) ou, no limite, da transformação (dar-se uma forma diferente).








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