Sabores e odores

Cada filosofia, um sabor, um odor: 
Importa o princípio de que uma filosofia não é um sistema insípido e inodoro de asserções objetivas, mas a tentativa de explicitação de uma experiência pessoal, de um páthos, portanto, com sabor e odor [...].*
Certo. E, então, a Heidegger:
“Nosso ser-aí precisa retomar a sua profundidade metafísica. Novamente alcançar a sua relação estabelecida e verdadeiramente constituída [mas velada, esquecida] ao ser do ente em sua totalidade”**.
Essa retomada do ser, essa filosofia do retorno, supondo a possibilidade de seu translado ou de sua projeção, ao menos de sua ressonância, em Spinoza, tornaria-se um ir, um desdobramento adiante da potência – a liberdade, salvação ou beatitudo do humano.

Para Heidegger, o ser do ente, que constitui isso que o ente é, não está de modo algum no ente – aqui, o ser sabe e cheira à transcendência (mesmo que a transcendência se dê na ou diante da imanência, no panta hen). Não encontramos no ente, entre os entes, o seu ser. Por isso, é preciso retirar a metafísica, ou seja, a relação aberta essencialmente humana ao ser, do âmbito do ente e da física.

Para Spinoza, isso que constitui a essência (e a existência, aliás) do ente, seu ser (e seu existir, na duração), é a própria totalidade do ente – sabor e odor de imanência. A física spinozana não é um equivocado esquecimento do ser velado pelo ente, mas a captura do ser do ente como totalidade do ente. Captura ontológica que ocorre também como física.




(*) RIBEIRO, Luís Felipe Bellintani. Sobre a noção de parádeigma em Platão. Revista Peri, Florianópolis, vol. 5, nº 2, 2013, p. 1-25. P. 2.

(**) HEIDEGGER, Martin. An Introduction to Metaphysics. Trad. Ralph Manheim. London: Yale University Press, 1987 [1953]. P. 107.


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