Diário



Hoje foi um dia completamente atípico. Nuvens e chuva. Foi o primeiro dia em que não transpirei como um queijo em processo de cura.

Todo diário que eu escreva remeterá (num estado dependência ou por imitação) ao diário de Walter Benjamin*. As descrições e os afetos de Benjamin em Moscou são um traço mnêmico indelével, que canaliza, para aquele que o leu uma vez, qualquer outra descrição diária de impressões que surjam da relação entre um cronista estrangeiro em viagem por um lugar humano, uma cidade.

A diferença entre a forma do diário de Benjamin e a do meu é a seguinte. A dele se dava no contexto de um intervalo de tempo e de um retorno iminente a Berlim. Na minha forma, o tempo de minha estadia em Moscou é indefinido (com sabor de um presente eterno – sempiternidade).


(*) BENJAMIN, Walter. Diário de Moscou. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Schwartz, 1984 [1927].

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