Diário IV


Almoço em uma cantina de trabalhadores, situada ao lado de um restaurante típico, surpreendentemente elegante, provavelmente frequentado por funcionários do partido.

Grandes mesas num salão suficientemente aquecido por um sistema que me pareceu eficaz, e que nunca tinha visto antes. Quando me aproximei das caldeiras, que dispunham de grandes pás circulantes que distribuíam o ar quente, mas umidificado, por todo o salão, pude perceber uma plaqueta metálica indicando sua fabricação e procedência alemãs (tratava-se, então, de uma oferta de solidariedade do sindicato berlinense? Como saber?).

Em um grande samovar, servia-se chá, mas tão açucarado que eu não consegui beber. Os moscovitas colocam açúcar em tudo, numa quantidade insuportável para um organismo berlinense. Abandonei meu copo quente de chá, o mais discretamente que pude, sobre uma mesa em que se empilhavam pratos e talheres sujos que voltariam para a cozinha.

Sentei-me numa mesa vazia, com meu prato de comida. Pouco depois, juntaram-se a mim, vários trabalhadores com pratos cheios ao máximo. Uma jarra de chá doce foi colocada entre eles. Um jovem, que não retirou de sobre sua cabeça o seu gorro de lã, fez sinal de que eu poderia me servir, se quisesse. Declinei, e agradeci.

Passei alguns momentos aliviado, entre os trabalhadores e seu frescor. Conversavam animadamente entre si. Embora eu nada compreendesse, podia perceber que compartilhavam muitas ideias, e que havia, entre eles, todo um mundo em comum, às quais e ao qual eu não tinha o menor acesso.


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