Mas, para eles, a verdade está fora da história; e qualquer afirmação da historicidade da verdade já é negar a verdade.
Eu gostaria de tentar pensar a absoluta historicidade da verdade, sem negar a verdade ou a relativizar.
Consideremos que o relativista seja aquele que não acredita na existência da verdade, porque a verdade seria sempre relativa ao contexto de sua enunciação, isto é, à maneira pela qual numa sociedade e numa época se institui seu regime de verdade.
Porém, quando o relativista diz que “a verdade não existe”, imediatamente, ele entra em contradição consigo mesmo, porque, como o que ele afirma é uma verdade, ao afirmar ele nega a si próprio.
Não podemos dizer, sem enrolar a língua, “a verdade não existe”. Digamos então ao contrário que a verdade existe, e como! A verdade existe multiplamente.
Se aceitamos a possibilidade de que a verdade tenha uma expressão temporal na imaginação – uma historicidade, uma efetuação na história, uma produção histórica de efeitos que produzem efeitos – podemos dizer que a verdade existe (é real, age no real, e o real age nela), mas temos dela uma percepção histórica que varia segundo um determinado regime de verdade, que é incontornável. Por isso, podemos falar da historicidade da verdade sem negá-la.
A verdade existe, mas é imanente a um regime de verdade (que ele mesmo é existente e verdadeiro, e ao mesmo tempo histórico).
Que a verdade tenha necessariamente uma historicidade não quer dizer que as nossas ideias na história vão se tornando cada vez mais verdadeiras, que nos aproximamos continuamente da verdade.
Estamos desde sempre e para sempre na verdade, mas há errância, saltos, descontinuidades dos regimes. Contudo, o regime de verdade é ele mesmo verdadeiro. E a verdade é imanente ao seu regime.
Um regime de verdade seria a maneira pela qual a imaginação se ordena para exprimir a verdade. A imaginação não é um nada. Ela tem uma positividade e uma ordenação própria, é pensamento; e, portanto, envolve, apesar da confusão, toda a verdade.
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