Parisienses VII – Vulgaridades ao jantar

O que aconteceria se eu deixasse de existir? O mundo seria o mesmo sem a minha presença? Curiosa questão.
Era realmente por causa de jantares como este que todas essas pessoas se enfeitavam e recusavam deixar os burgueses entrar em seus salões tão reservados? Para jantares tais como este [que eu acabei de presenciar]? [seriam esses jantares] os mesmos se eu tivesse estado ausente? Tive por um instante a suspeita, mas seria demasiado absurdo. O simples bom senso me permitia afastar essa suspeita.*
O bom senso parece indicar que esses jantares são muito especiais. E portanto muito diferentes se “eu”
não estivesse presente. Ou será que o bom senso indica que a “minha” presença em nada os afeta, e que minha ausência lhes seria absolutamente indiferente?

Mas, afinal de contas, será que o senso analítico “me” permitiria colocar a questão da minha ausência?

“Se uma parte da matéria fosse aniquilada, juntamente também esvaeceria toda a Extensão.” **



(*) PROUST, Marcel. Le Côté de Guermantes I et II. Paris: Le Livre de Poche, 1992 [1920].  P. 604.

(**) SPINOZA, Benedictus de. Opera Posthuma. –: –, 1677.  Epistola IV.  P. 404.

Nenhum comentário: