“Ah! Não, respondeu a duquesa, disto [desta tristeza] eu creio que ela não sinta nada.
– Nada? Você vai sempre ao extremo, Oriane”, disse M. de Guermantes retomando seu papel de falésia que, ao se opor à onda, a força a lançar mais alto seu buquê de espuma.*
Possivelmente, o poeta encontra primeiro a metáfora e somente depois (com alguma dificuldade) a proposição-estado-de-coisas que lhe pode ser associada. Então, perguntamos, o que é metáfora de quê? A metáfora não é a onda e a falésia. Nem tampouco Oriane e M. de Guermantes.
A metáfora é a relação externa que se estabelece entre a relação ou proporção interna [falésia/onda] com essa outra relação interna [M. de Guermantes/Oriane]. (Como já dizia Aristóteles, não sobre Proust, é claro.)
Acontece que a relação [falésia/onda] é muito mais potente, ou seja, produtora de relações externas imaginárias do que a relação [M. de Guermantes/Oriane]. Daí, a sensação de que a imagem [falésia/onda] é primeira frente a outra. Daí, também, o exagero ou o kitsch da relação metafórica.
(*) PROUST, Marcel. Le Côté de Guermantes I et II. Paris: Le Livre de Poche, 1992 [1920]. P. 569. Grifo meu.
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