Todo brasileiro leitor de Spinoza acaba se identificando com aquele brasileiro negro e sarnento, de quem ele teve a visão viva de um presságio, apesar de falso.
“Uma manhã, quando já clareava o céu, ao acordar de um sonho muito penoso, as imagens que se tinham apresentado a mim no sonho, ofereceram-se a meus olhos com a vivacidade de objetos reais, em particular, aquela de um certo brasileiro negro e sarnento, que eu jamais havia visto”*.
Se não estivéssemos tão distantes dele, no tempo, poderíamos nos subjetivar como realização de um presságio de Spinoza, em 1664. O próprio Spinoza nos adverte, porém, que uma das condições do presságio é: “que o momento em que este evento se produzirá não esteja muito distante [do momento em que foi pressentido]”. Como se nos dissesse: – você, caro leitor brasileiro de 2009, não é a realização de um tal pressentimento.
(*) SPINOZA, Benedictus de. Oeuvres IV. Trad. Charles Appuhn. Paris: GF Flammarion, 1966. Carta XVII, pg. 176.
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