Terrorismo e espetáculo são inseparáveis. Por quê? Porque o terrorismo prescinde da lógica espetacular, e a lógica espetacular do terror.
Por um lado, não há terrorismo sem espetáculo. É no espetáculo e não na vida-morte que o terrorismo encontra seu combustível. No aspecto estritamente material, os atos terroristas não têm um efeito relevante, não constituem uma ameaça real. –É certo que paira a ameaça virtual de que o terrorismo tome posse de armas de destruição em massa. Mas essa ameaça virtual, no momento em que se atualizasse, deixaria de ser um ato essencialmente terrorista.– Sem o dispositivo espetacular de nossa época o ato terrorista não teria efeito. Sem o espetáculo o ato do homem-bomba não produz terror. Certamente seria um remédio contra o terrorismo deixar de espetacularizar o ato, a manifestação terrorista. Porém, obviamente, o dispositivo espetacular está preso à sua própria lógica. Deixar de divulgar um atentado, seria privar às multidões de informação, seria contrariar o princípio do dispositivo espetacular essencial às democracias liberais.
Por outro lado, não há espetáculo sem terror. O terror é a base de justificação, de legitimidade do dispositivo biopolítico da segurança da vida. O princípio de nosso assujeitamento aos dispositivos de segurança é o sentimento de desamparo, nossa vontade de ser governados, que o terror amplifica. O terror reforça nosso sentimento de desamparo, nosso desejo de proteção, nosso sentimento de rebanho carente de um pastor. Por isso o terror é essencial ao dispositivo de segurança, que é um dispositivo biopolítico, uma forma de agenciar a vida politicamente. O terror põe a segurança acima da lei, a biopolítica acima da soberania e, até mesmo, a biopolítica acima da biopolítica, a exceção em nome da vida acima da regra em nome da vida. Contra o terrorismo, a ação dos Estados precisa ser não apenas efetiva (como seria, por exemplo, a supressão do espetáculo), mas sobretudo espetacular, produtora de segurança. O Estado precisa provar espetacularmente que cumpre o que promete, prover segurança.
Para completar o argumento, seria necessário mostrar como biopolítica e sociedade do espetáculo compartilham os mesmos mecanismos. Mas, de alguma forma, isso já foi dito.
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