Quando o humor não é representação do ator, mas espontaneidade do autor – pura manifestação quase automática – não premeditada, então presenciamos uma interessante ocorrência da imaginação.
Num certo modo do dizer, neste tipo de humor, a imaginação aparece dissociada da criatividade. O humor não põe algo a mais de positivo no mundo, não cria, mas produz um efeito desestabilizante pela comparação do nosso mundo com outros mundos possíveis. Dissociada da exigência de fazer mundo, própria à ação criadora, o humor imagina mais livremente o outramente.
A desestabilização do nosso mundo pela simples comparação com outro provoca a pulsão do riso. Por isso, o riso é semelhante à radiotividade, que pode ser interpretada como sintoma de uma desestruturação interna ao átomo-indivíduo. E no coletivo, também, o riso tem o mesmo efeito contaminador e bombástico da radiação atômica.
Nem toda apresentação de um outro mundo possível (que desestabiliza, porque torna o nosso mundo apenas um outro) é humor. Muitas vezes, a apresentação do outro mundo é séria, e de alguma forma nos entristece – e com isso desaparecem as características do humor, que são ligadas à alegria. Talvez seja a função criativa da apresentação o que a afaste das esferas do humor. Com a intenção de criar, o que a apresentação apresenta não é o outro possível, mas o mesmo de outro modo.
A apresentação humorada deixa o mundo como está – mas destaca seu caráter contingente, irrisório, ridículo no seu absoluto. É a fala do cínico.
A apresentação criativa – própria do demiurgo – é proselitista, adiciona uma proposição ao mundo e procura os meios para realizá-la, tornando essa realização de alguma forma necessária.
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