Mito e história XII


A história é usualmente concebida como o movimento de inovação pelo qual o humano socialmente se arranca de uma situação mítica (estática e fechada – enfim, prisioneira dos tempos, da origem ao fim).

Para Clastres, a situação mítica já é, porém, uma situação histórica se ela conter (e o mito, dependendo, pode favorecer isso) alguma espécie de poder coercitivo.

Sociedades sem história, para ele, não são sociedades míticas, mas sociedades sem poder político coercitivo. E a história é a história das formas de coerção nas sociedades.

Nesse sentido, podemos dizer, as autênticas lutas contra a dominação, isto é, quando não são lutas pelo poder coercitivo, são lutas contra a história. (Agora nos chega mais clara a compreensão do dito-oracular de Herzog.)

Por isso, a tarefa do historiador, para Walter Benjamin, é “escovar a história a contrapelo”; quer dizer, é fazer a história das lutas contra a história, para acabar com a história (na produção messiânica da volta ao futuro, da volta ao mítico sem coerção – e o Messias pode entrar pela nossa porta inesperadamente a qualquer momento).

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