Como é difícil ser rei entre os Urubu





Sobre a tribo dos Urubu, François Huxley:
É papel do chefe ser generoso e dar tudo o que lhe pedem: em algumas tribos indígenas, pode-se reconhecer o chefe porque ele possui menos que os outros e traz os ornamentos mais miseráveis. O resto foi-se em presentes.* 
Ou seja, entre os Urubu, o avaro, que acumula riquezas, não é reconhecido como chefe. Enquanto, entre nós, a quantidade de poder (no sentido restrito e antidemocrático, de uma capacidade hierárquica de comandar) equivale à quantidade de riqueza. Se fôssemos Urubu, reconheceríamos os nossos chefes nos desmunidos e não nos munidos.

(A Igreja católica, pelo contrário, reconhece magnificamente a si mesma como chefe, por reconhecer e ao reconhecer no mundo a quantidade da miséria).




(*) Huxley apud CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. Trad. Theo Santiago. São Paulo: Cosac Naify, 2003 [1974]. Cap. 2. Troca e poder: filosofia da chefia indígena. P. 48.


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