O pequeno culpado e a pequena vítima

O culpado reconhece a si mesmo como a causa de um mal. O que importa, aqui, é a sensação precisa que ele tem de si mesmo. O mal não precisa ser determinado, um evento preciso, mas pode ser uma possibilidade difusa. A causalidade, portanto, também é difusa; o culpado não sabe como ele produziu aquele mal, que ele aliás desconhece. Basta ao culpado que ele se sinta acusado.

A vítima, por sua vez, reconhece em si mesma o efeito de um mal. O que importa, aqui, é a sensação precisa que ela tem de si mesma. O mal não precisa ser determinado, não é um evento objetivo, pode ser uma insinuação. A vítima não sabe como se produziu nela aquele mal; mal que ela aliás muitas vezes desconhece. Basta à vítima que ela se sinta digna de sofrimento.

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Um si mesmo determinado. A ideia difusa de um mal externo ou interno ao si. A ideia confusa de uma ligação causal entre o si e o mal. A sensação de dignidade ou de indignidade. O culpado ou a vítima.


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