Talvez o característico da filosofia não seja a unidade de objetos, conceitos, métodos, mas a atitude. E qual seria essa atitude? Talvez, a de alguém que, ao aproximar-se, questiona-se profundamente: “Afinal, o que é isso?”
Essa aproximação do filósofo, na verdade, é um distanciamento. O filósofo aproxima-se, distanciando-se. Não pode se fundir com aquilo do que se aproxima. Precisa estabelecer e guardar entre si e seu objeto uma distância. Mesmo que essa não seja uma distância realmente possível – por exemplo, quando o filósofo se questiona sobre a existência, sendo ele mesmo um existente. Ou quando se questiona sobre o ser humano, sendo ele mesmo um humano. De todo modo, ele se aproxima e se distancia para poder ver o que é visível para todos. A pretensão do filósofo não é ver o que ninguém vê, mas dizer algo sobre o que é visível para todos nós. Para nós que estamos tão perto, tão imersos nesse visível, que experimentamos esse visível numa proximidade tal, que não dizemos mais nada sobre ele.
A atitude do filósofo seria basicamente essa:
Estabelecer, em relação a algo de que se aproxima, uma distância, uma abertura, e preencher, e cobrir essa distância com uma fala, uma expressão, um saber, que não simplesmente repita, ou complemente, mas inove a percepção, a visão, que temos desse algo.
O problema da filosofia é que esse algo de que se aproxima não pré-existe à abordagem do filósofo, mas se configura e toma forma junto com o seu pensamento e discurso. Freqüentemente, então, o objeto da Filosofia não lhe precede.
Os problemas filosóficos são como as sobras do almoço dos filósofos.
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