O devir sob controle


Nós atribuímos a geração e a corrupção, o devir, o aparecer ou o desaparecer de tudo o que aparece ou desaparece de nossa vista, sentidos, cabeça e humor, a quatro causas, à arte, à natureza, à fortuna (a deusa dos bons e dos maus ventos, da sorte e do azar) ou, ainda, ao acaso.

Mas, para Aristóteles (Metafísica, 12, 1070a5-10), na realidade, as causas são apenas de dois tipos. As coisas existem ou a partir da arte ou a partir da natureza.

A fortuna (Tyche) significa, de fato, apenas uma privação de arte. Se uma coisa de arte dá certo ou não (um bolo, por exemplo), isso não depende da sorte ou do azar, mas só da competência do artista. Um artista pleno, certo, sempre produz artes plenas, certas, infalivelmente. Um artista incerto, que não domina totalmente a sua arte, ora produz coisas certas, ora incertas. E isso não depende da fortuna, mas da capacidade do artista.

O acaso (ou a contingência sem causa, automática, automatos), por sua vez, é apenas uma privação de natureza (como necessidade causal). Se uma coisa natural não vem a ser de modo pleno (uma monstruosidade, por exemplo), isso não se deve ao acaso, mas a uma privação, uma insuficiência, de natureza.

Nada, porém, nos força a pensar como Aristóteles. Nada nos força a pensar de um jeito ou de outro, senão a própria realidade, a própria verdade do real, que conduz o nosso pensamento (ocasionalmente, para o lado da sorte ou do azar, ocasionalmente, para o monstruoso).





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