Diário de Moscou XXIV


Em Moscou, ninguém parece alcançar a idade dos berlinenses. Mas eu estou entre eles. Caminhamos, bebemos juntos, lemos os mesmos livros, e trocamos ideias, como se fôssemos da mesma experiência e tivéssemos os mesmos interesses, com a mesma vida diante de nós. Quando lhes digo, por alguma razão (embora eles jamais me perguntem acerca disso), o elevado número dos meus anos, sinto como se isso lhes causasse algum embaraço ou um amargo incômodo; o idêntico embaraço e incômodo que lhes causaria uma nuvem cinza e isolada que, inesperadamente, lhes encobrisse o sol em um raro dia ensolarado de inverno. No entanto, depois de uma pequena interrupção, o lapso de um esquecimento ativo, percebo-os retomar a alegria, voltando ao que faziam: caminhar, beber, ler, ou trocar ideias.



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